Há quase 9 meses que não escrevia uma crónica. Razões de ordem pessoal fizeram-me andar arredada da escrita.
Que aconteceu ao Porto durante esse tempo? Essencialmente, a meu ver, tornar-se, cada vez mais, uma promessa adiada. A
movida
vai de vento em pompa, abrem algumas lojas ou espaços alternativos,
outros fecham. Há movimentos pontuais de cidadãos, um ou outro festival
mas, o tom geral, o do dia-à-dia, é de desânimo.
Não parece haver crescimento, não parece haver uma melhoria substancial, nem sequer um manter ou preservar do existente.
É certo estarmos em crise, a Câmara ter, muita vez, uma atitude pouco
flexível, mas passear pela cidade rasa o deprimente. Prédios e casas a
cair, cada vez mais lojas fechadas, muitas delas substituídas por
espaços “Compra-se Ouro”, ruas pejadas de lixo.
Existe quem se esteja empenhado em estudar os problemas da cidade, como a
APRUPP
(Associação Portuguesa para a Reabilitação Urbana e Proteção do
Património), que tem realizado tertúlias alusivas ao tema, ou a
Swark, que trabalha na recuperação de casas, essencialmente na baixa. Há o Teatro do Bolhão, que se vai instalar no belo
Palácio do Conde do Bolhão, na Rua Formosa. São iniciativas importantes mas não chegam.
Por um lado, o Porto não pode ser reduzido ao centro histórico e à
baixa, os 2 pontos primordiais de atenção, seja na divulgação da cidade,
seja na reabilitação urbana; por outro, parece ser difícil levantar o
moral de uma cidade atrofiada por milhentos males.
Continuo a achar que o Porto tem condições para ser uma pequena/média
cidade aprazível, com características únicas, uma ideia que abordei em “
Uma Pequena Cidade“. Então, o que é que aconteceu? O que se passa?
Solavancos, diria. Um pára-arranca-para-que-não-chega-a-avançar-e-a-levantar-voo. Temos turistas, é certo. Temos imensos
hostels (
alguns deles a fechar,
tanta acabou a ser a oferta) e hotéis (também eles em excesso), mas uma
cidade que se quer viva no seu todo não pode viver só de turistas e do
alardear de 2 zonas.
A cada semana que passa deparo-me com mais casas, apartamentos ou
lojas vazios. Numas voltas pela baixa, de dia, cruzo-me geralmente com
estrangeiros e, excepto pelos lados de Santa Catarina ou São Bento,
pouco mais. O centro histórico tem os seus visitantes do costume. E o
resto? O resto, na vida real, é quase uma cidade fantasma. À noite,
então, nem se fala.
E, depois, são os problemas que se arrastam há anos e anos, como o Bolhão,
cada vez mais débil.
É a falta de uma estratégia concertada de revitalização da cidade, de
ver mais para lá do que o presente. Aliás, o presente anda a ser
desmantelado aos bocadinhos. Que nos trará o futuro, mais tudo na mesma
ou boas supresas?
(Publicado na secção
Opinião Porto24 a 29 de Agosto de 2012)