quarta-feira, 1 de junho de 2011

Esplanadas Toldadas

Esplanadas Praça Parada Leitão (Arquivo  Porto24)
Uma grande embrulhada, é o mínimo que se pode dizer da saga das esplanadas da Praça Parada Leitão. Concebidas para substituir as pré-existentes, e pagas conjuntamente pela Gelataria Cremosi, Café Âncora d’Ouro, Café Universidade, Café o Mais Velho e, Restaurante Irene Jardim, ainda antes de abrirem já estavam envolvidas em polémica.
A demora na conclusão das obras e o desagrado pelo projecto arquitectónico foram os primeiros factores de controvérsia. Inauguradas, em Abril de 2010, continuaram envoltas em tormentas. Às críticas ao projecto somava-se a ilegalidade.
Como se abrem esplanadas ilegais? Emitindo a Câmara Municipal do Porto (CMP) a necessária licença municipal mas achando não ser, nesta matéria, preciso consultar o Instituto de Gestão de Património Arquitectónico e Arqueológico (IGESPAR). Para os comerciantes tudo estava, então, em ordem. O dinheiro gasto na obra 250 mil euros, tinha-lhes trazido estruturas em metal e vidro, que esperavam fossem para durar.
Só que, segundo o IGESPAR, as esplanadas não cumpriam a lei. Reuniões várias, na CMP e com o IGESPAR de nada serviram. O instituto manteve-se inflexível: as esplanadas não cumprem a lei e são para demolir. O parecer definitivo, negativo, veio da Direcção Regional de Cultura do Norte (DRC-N) em Setembro de 2010.
Passado mais de meio ano da decisão da DRC-N as esplanadas a demolir continuavam de pé, e ainda não havia nova solução para o problema.
Este mês a DRC-N deu parecer “informal” favorável a uma nova solução: toldos e pavimento nivelado de madeira. Diz a DRC-N que “a proposta aceite contempla a instalação de elementos mais usuais em esplanadas, como toldos de sombreamento e um pavimento de madeira nivelado”. Mas ainda falta um novo pedido de licenciamento à CMP. Só depois deste emitirá a DRC-N um parecer “formal”.
Confusos? Eu também. Voltemos à casa partida e recomecemos. Antes de qualquer coisa ser construída existe um projecto dessa mesma coisa. Bastava o mesmo, manifestamente inadequado ao espaço a que se destinava, não ter sido aprovado e nada disto teria acontecido.
Porque é o projecto desajustado do local onde se insere? Os tipos de materiais, a volumetria, a área de ocupação do espaço público, o enquadramento no todo, estão desajustados. Ali, o que pede é desafogo, leveza, harmonia. Que se deixe respirar os edifícios, que o olhar de quem estiver frente à igreja do Carmo ou à dos Carmelitas não fique sufocado. Ou seja, que as esplanadas, estando lá, passem o mais desapercebidas possível.
Eduardo Souto de Moura disse, a semana passada, a propósito do projecto de remodelação do interior do Mercado do Bom Sucesso que o dito estava “aos berros“. O projecto que foi erigido em Parada Leitão é mais como as Tulipas do poema de Sylvia Plath, magoa (o olhar) e consome todo o ar existente.
Bastava um bocadinho de bom senso. Pensar que, por vezes, a simplicidade, o mais usual num determinado contexto é o mais adequado. Ou seja, ter-se, logo de início, avançando com os tais “elementos mais usuais em esplanadas…”. Poupava-se tempo, recursos, e evitava-se ter o espaço público ocupado por algo que lhe é desadequado.
Agora, voltarão as obras. De desmantelamento e, depois, se segundo licenciamento da CMP for avante e a decisão “formal” se concretizar, de reconstrução das esplanadas. Quando estará tudo pronto e nos conformes? Ninguém sabe. Espera-se, como se tinha feito antes, que rapidamente.
Esta segunda-feira, disse Rui Rio, o presidente da CMP, na apresentação do novo portal do Turismo do Porto ser o turismo “aquilo a que podemos já deitar a mão para ajudar o país“. Também é aquilo a que podemos deitar, de imediato, a mão para ajudar o Porto. Mas convinha evitar repetir este tipo de situações. É mau para quem cá vive, para quem vem de visita, para a imagem da cidade, para o erário municipal e para os comerciantes.

(Publicado na secção Opinião Porto24, a 24 de Maio de 2011)