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Telhados e Douro (Raquel Pinheiro) |
Aceitemos, na grande ordem das coisas, que o Porto é uma pequena cidade. 41 km2, 216 mil habitantes. Nunca seremos Tóquio, Nova Iorque, Londres ou a Cidade do México. Nem sequer Lisboa. E ainda bem.
Porquê? As grandes cidades são, e serão cada vez mais, sobrehabitadas, barulhentas, aceleradas, fatigantes. Algumas delas, em breve, devido ao elevadíssimo custo de vida, ficarão para os muito ricos, inacessíveis, ou quase, para a maioria de nós. Outras lutarão com dificuldades crescentes de abastecimento de água, poluição, falta de segurança.
Terão a seu favor o poderio económico, a capacidade de se imporem como líderes mundiais. E então, e nós, onde ficamos? Que fazemos? Aproveitamos, a nosso favor, o facto de termos uma pequena cidade.
Em vez de vermos isso como um problema ou obstáculo, valorizemo-lo. Em vez de gastarmos energia a tentarmos ser como as megapólis e em competições descabidas, abracemos calorosamente a nossa pequena dimensão. O Porto tem tudo para se tornar uma cidade com uma qualidade de vida invejável.
Sofremos de várias maleitas, é certo. Uma delas é não conseguirmos arranjar uma unidade identificativa a partir da qual possamos começar a trabalhar. Perdemos tempo em tricas com Lisboa ou entre grupinhos locais, que em nada servem o todo. A pormos os olhos nos outros, coloquemo-los no que fazem bem. Ler a entrevista de António Costa, o presidente da Câmara de Lisboa, à revista do Montepio deste trimestre pode dar-nos uma ajuda (ler em PDF).
Costa tem um discurso actual, integrativo do passado, presente e futuro da cidade que dirige. De Lisboa diz ser “uma cidade com história, cosmopolita e multicultural, onde o antigo e o moderno coexistem de forma singular”.
E o Porto, que imagem deve fazer passar? Em torno de quê se deve concentrar? Cidade pequena, romântica, antiga, calma, aprazível, onde criatividade e novas tecnologias convivem com vários séculos de história não parece má publicidade. A de uma cidade de grande qualidade de vida, preços módicos, amiga das famílias, aberta a todos, não esquecida dos que aqui vivem há décadas.
Conseguidas as linhas de orientação, há que, como escreveu Nuno Grande neste espaço, ter um “projecto de cidade”. Recuperar e tratar com respeito o património material e imaterial, as pessoas. Juntar o novo onde for necessário e não por ser projecto de um arquitecto conceituado ou, simplesmente, por ser novidade e se fazer “em todo o lado”.
E também não nos esquecermos que a cidade não se confina à baixa ou ao centro histórico. Das Antas a Francos, o Porto tem muito para oferecer. E para ser reorganizado. Mas o centro histórico é a nossa musa, determinante para a nossa identidade e merece ser mais bem tratado. Afinal, como me dizia um amigo no Facebook, a propósito da foto que ilustra esta crónica: “Eis os verdadeiros jardins suspensos da Babilónia”.
Querem melhor chamariz para o Porto do que a cidade dos jardins suspensos da Babilónia? A mim, juntando-lhes a serenidade de pequena cidade com todas as comodidades modernas parece-me bem. Mesmo muito bem.
(Publicado na secção Opinião Porto24, a 18 de Maio de 2011)